Tempo bom hoje, temperatura agradável, frio para praia, quente para casaco.
Dia propício para fazer alguma coisa. Quem sabe... nada.
A arte de fazer absolutamente nada é talvez a mais antiga e difícil tarefa incumbida a nós – bípedes e pouco peludos - em alguns intervalos de nossas vidas. Ninguém gosta de esperar, ficar preso no elevador ou tirar férias na Antártida.
Não somos projetados para o absolutamente nada, creio eu (- pensando em uma metafísica barata, escrevendo com uma leve irritação e apenas com o suporte de uma auto-evidência tendenciosa).
Dentre nossas imensas possibilidades de comportamentos e reflexões, o nada aparece como uma opção tímida e cansativa, principalmente se estendida por muito tempo. O ócio relaxante pode ser muito prazeroso, mas ócio tedioso pode ter o efeito contrário.
Dizem os filmes e alguns jornais que o prisioneiro perde a noção do tempo em uma solitária, que este sim seria um dos piores castigos. Ficar só, imerso em um tédio profundo, sem ver a luz do dia. Triste, psicologicamente estressante.
O estopim do nada, o completo vazio.
Quando já nos irritamos o cérebro parece que diminui, a inquietação incomoda, perdemos o tempo e não ordenamos de forma eficiente os pensamentos.
Quanto mais nada fazemos, mais vontade de nada podemos ter – ou uma não vontade de vencer o nada. É uma praga que consome os minutos.
Esse tipo de ócio é diferente daquele criativo, o qual confabular em frente à fogueira ou pensar embaixo da árvore pode desencadear uma idéia arrematadora, um insight surpreendente. Grandes pensadores provavelmente desfrutaram de momentos de grande nada, apesar de que certamente se sentiram frustrados e cansados por ideias circulares.
Penso que seria importante para nossa manutenção o estímulo de nossos sentidos, a excitação máxima. Para, então, o ócio processar e organizar as informações.
O novo, o velho, o cheiro, a música, as palavras, o tato, o estilo, a ideia. Enfim, o nada.
Parar é tão importante quanto o movimento, mas a balança precisa de uma boa medida.
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