Eu terminei de ver a série inglesa “Planeta Terra” ou Planet Earth, que está disponível no Netflix. Uma mega produção da BBC com ótimos textos, imagens e boa narrativa. É coisa muito fina. São 11 episódios que viajam pelos diferentes ecossistemas terrestres e aquáticos. Uma demonstração bonita sobre o que é a nossa casa e um pouco de como ela funciona.
Na série, tudo gira em torno da energia. A energia que precisa estar disponível para o desenvolvimento e propagação da vida. Começa pelo sol (e a fotossíntese), mas também pode vir do fundo dos oceanos.
Onde há mais nutrientes, há mais energia, e, desse modo, uma grande quantidade e variedade de organismos pode se desenvolver. Como resultado, no desenrolar do tempo as mais diferentes relações entre eles emergem.
A vida se desenvolve em uma história sem mocinhos nem bandidos. Apenas uma história, nua e honesta, que teve um começo, mas não tem um fim (pelo menos não ainda, apesar de estarmos acabando com muita coisa).
Nossa cultura e aprendizado nos faz ter certa aversão a certa “crueldade” que existe no mundo natural. Como predadores caçando filhotes, por exemplo. A natureza é Amoral (sem moral, diferente de imoral), no sentido de que a moralidade é algo inerente a nossa espécie, por vivermos em grupo. Provavelmente não exclusivamente humana, mas extremamente importante para nossa manutenção. Imagina o caos de nosso relacionamento em sociedade se não fossemos indivíduos morais. Esse é um campo de estudo que transita entre filosofia, sociologia e biologia.
Mas a natureza não está preocupada com o que as pessoas pensam dela, ela apenas é o que ela é.
E existe alguma coisa mais bonita do que ser exatamente quem tu és?
Eu não julgo, admiro. A natureza vem cheia de mistérios, mas sem jogo. Eu, como biólogo, procuro entender. Claro que queria levar os filhotes para casa. Mas não queria ver a mãe urso, que também carrega três crias, morrer de fome.
O que mais me encanta nisso tudo é o dinamismo e a criatividade da natureza. Como há tantas formas de vida? Das mais bizarras? Com os mais diferentes estilos de vida?
Acho demais.
Há uma correlação amarrada entre os organismos e o ambiente, uma teia de inter-relações, e que traz certa estabilidade para o sistema como um todo. Aquele que começa a ficar muito numeroso provavelmente vai começar a ser comido mais frequentemente. Novas relações e mudanças também podem ocorrer. Assim, a estabilidade e o dinamismo andam de braços dados, desafiando e encantando os ecólogos. Caminhos surpreendentes e criativos podem ser tomados no decorrer de toda essa história. (Neste post falo um pouquinho sobre a criatividade no meio natural).
A natureza não é um estrito campo de batalha. Há momentos de luta, obviamente. Mas há momentos de pura satisfação e prazer. Viver, como para nós, não pode ser um martírio completo, porque se fosse ninguém sobreviveria.
Enfim, agora são tempos difíceis para a natureza. A nossa espécie está modificando e diminuindo os recursos disponíveis, cortando aquela energia tão importante. Estamos causando um profundo estresse. Essa sim é uma tremenda crueldade, sem aspas. Nesse cenário, de brusca mudança e escassez, é muito provável um grande sofrimento por parte dos organismos que habitam nosso planeta.
Somos os marajás em um planeta desigual.
O Planeta Terra II foi lançado ano passado, 10 anos depois do primeiro, seguindo os mesmos moldes, mas com captação de super câmeras de vídeo. Aqui o trailer. Mas ainda não entrou no Netflix. Verei com certeza.
Conhecer a nossa casa e seus moradores pode nos ajudar a conservar esse bem tão precioso.