Baixei um livro chamado “Utopia”, escrito há alguns séculos. Na verdade comprei o eBook pela bagatela incalculável de 0,99 centavos. Em tempos distópicos resolvi ler alguma coisa ao contrário. O cotidiano confinado e as notícias ruins afetam até os mais insensíveis.
Pensei em começar a ler pelo final. Já entender logo o que é tão bom. Seriam todos felizes e bem alimentados? Um lugar com parques e florestas, churrasqueiras e latão de cerveja a R$ 2,79 - que nunca esquenta. Amizades tranquilas e agregadoras, sem competição exacerbada e julgamentos precoces. Cultivar as coisas boas e sentir-se bem. Uma dose de autoconhecimento para cada cidadão. Despertar os talentos e a empatia. Talvez pudéssemos pegar um pouquinho de cada país: a educação da Finlândia, a organização da Alemanha, os memes e a espontaneidade do Brasil.
Exercer uma atividade prazerosa com a qual nos identificamos. Viajar vez que outra. Deixar de lado todo o preconceito, vivenciar a igualdade e o aprendizado. Pensar no dinheiro como uma ferramenta e nunca como um fim. E nesse mundo utópico, não se preocupar com ele - que talvez nem exista.
Ser feliz e não incomodar. Cuidar de si e cuidar do outro, mas sem ser invasivo. Sem inveja, sem amargor. Comparar-se a si mesmo.
Pode ficar sozinho, pode ter um(a) companheiro(a), pode ter filhos, pode ser velho, pode ser preto.
Um mundo com arte. Bastante arte. Uma música. Feiras e festivais: onde celebramos nossa união, força e cooperação. Lugares cênicos. Sentir a tristeza e reconhecer a alegria. Ficar bem louco. Olhar para trás e ter orgulho do que passou, mesmo com todos os erros e percalços. Olhar para frente com otimismo.
Não há pandemias. A ganância e o ego são controlados. Amar a si mesmo não implica em narcisismo. Não se contam os “likes”, voláteis como o vento. Não se busca o estímulo incessante de nossos feeds. Não há fake news, nem manipulações. Somos livres. Liberdade movida pelo senso crítico que pertence a todos os cidadãos.
Menos sensacionalismo, mais honestidade.
Paz.
O ar que está fora é o mesmo que entra em nossos pulmões. Não há distorções, apenas o presente e o pertencimento. Somos parte de um planeta e respeitamos seus limites e provimentos. Acima de tudo somos gratos. Gratos pela utopia possível. Gratos pelo que não é possível.
Agradecemos o agora.
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Enquanto o presente, especialmente no Brasil, demonstra fortes aspectos obscurantistas, busquemos na literatura a idealização de algo melhor, como Thomas More fez há mais de 500 anos ou em um breve post de blog.
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