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  • Foto do escritorAndersonn Prestes

Blues


É uma música forte. São três acordes, alguns compassos, uma ou outra acentuação. Não é preciso mais que um violão e uma boa bebida.

O som da antagonia. Apaixonante. Traz a melancolia e a redenção, a dor e a felicidade, o pecado, a glória e a sensualidade. Tudo das mãos e vozes dos intérpretes a caminho da nossa percepção. Dizem que não ouvimos blues, sentimos blues.

É para todos os gostos e todos os momentos.

Apreciar uma boa música é como saborear um bom chocolate ou olhar uma cadeia de montanhas.

B.B. King uma vez escreveu “posso ter perdido a emoção por outras coisas, mas não pelo blues”.

Hoje quero escrever um pouco sobre alguns grandes e solitários bluesmen. Apenas sobre três. Provavelmente meus favoritos.

Começo pelo Robert Johnson, um dos primeiros. O rei do Mississipi, a lenda do início do séc. XX. Provavelmente um dos mais regravados de todos os tempos – passando por Stones, Buddy Guy até Eric Clapton. Contam que vendeu a alma ao diabo em troca do talento incomparável no violão. Gravou apenas 41 faixas em seus 27 anos de vida. "Love in Vain" e “Me and the Devil blues” são típicas da paixão não resolvida, ou mal resolvida. “Come on in my kitchen” é bastante convidativa, assim como “Stop breaking down”. Até a carregada e melancólica “Hellhound on my trail”. Johnson a primeira vista parecia ser sujeito um pouco franzino, com uma voz sem muita força ou veludo.

Mas ali estava o blues. Os versos repetidos, a diferente entonação e a mudança para sétima maior. Tudo vai voltando e é sempre bom.

O homem, o violão e o talento na encruzilhada.

Chego agora em um dos monstros.

Stevie Ray Vaughan era força bruta.

Uma inexplicável vontade e explosão. Um chapéu, muitas caretas e mãos de mestre de obras. A guitarra gritava como muito poucos conseguiam fazê-la. O som até lembra Jimi Hendrix e a obra prima “Little wing” serve como prova.

A voz era rasgada, agressiva, apenas refletindo a guitarra. No meu ouvido mesmo as baladas são delicadamente pesadas. Impossível Stevie tocar fielmente Tom Jobim em um violão de nylon.

Explicitamente a flor da pele.

Então, o terceiro é o Eric Clapton. A sensibilidade do músico.

De carreira sólida com diversas e regulares fases, fez muita música, atravessando o pop e encostando no reggae.

A guitarra, no entanto, sempre foi blues. Solos cheios de bends e pentatônicas, sem virtuosismo e muito bom gosto.

Penso que seja um dos músicos que mais fez parcerias. Todo mundo toca com Eric Clapton. Dos Beatles até John Mayer. E isso que ele não faz como o Santana ou, mais recentemente, o Slash nos seus discos “Eu e meus ‘amigos’”.

Eu gosto da voz, cativante – nem demais, nem de menos. Talvez um pouco controlada às vezes, poderia extravasar mais. Mas ele vai, tranquilo, com um som bom de ouvir, relaxante. Pode ser na profundidade de “Tears in heaven” ou no belo arranjo de “Layla”.

Ele nunca tocou com Robert Johnson por motivo de força maior. Mas nos gravou o excelente disco “Me and Mr. Johnson” onde interpreta 14 músicas.

Alguns acham o blues repetitivo.

Digo que a mesma coisa, feita do mesmo jeito, ainda pode ser completamente diferente. E muito depende do que conseguimos nos emocionar.

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