Ele morava no final da rua. Gostava dos finais dos filmes. Pulava para o final dos livros. Uma vez, por curiosidade, desceu no final da linha. Alguma coisa sempre queria saber do depois, sem muitos rodeios. Mas o sujeito era pacato. Tranquilo e se tivesse que esperar, esperava. Apenas tinha essa inclinação para o fim. Tinha gosto quando, no final da música, ela crescia ou, então, no triunfo da história quando acabava.
Perto dali havia ela. Ela gostava do início. Gostava tanto do começo que não queria que terminasse. Às vezes, nem assistia tudo. Para que acabar? E aqueles filmes bonitos que alguém morre no final? Para que ver todo? Ouvia música no repeat, várias vezes, e o melhor momento era o silêncio que precedia o começo. Ela morava no primeiro andar de um prédio no início da rua, mas próximo ao final, que tinha um meio curto e acanhado – era uma ruazinha.
Todos os dias, entre o início e o fim - no meio da rua -, ele e ela pegavam o ônibus. Ela sentada na frente, ele no fundo. Na parada cruzavam olhares. Ele bem apessoado. Ela muito bonita.
Certo dia ela começou. Começou a conversar. Perderam o ônibus. Ela contando dos inícios. Ele dos finais. As horas passavam.
Ficaram dias vivendo no meio e, enquanto isso, especulavam o que acontecia por ali.