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  • Foto do escritorAndersonn Prestes

A aventura de Luci


Luci trazia paz. Viajou para terras distantes e embarcou em aventuras antes nunca imaginadas. Fez a mochila, chamou uns poucos companheiros de estrada e foi. Luci estava indo sem saber o que aconteceria. Disseram que ela levava a paz, essas pessoas que moravam distantes e nem a conheciam. Mas como alguém leva a paz? Rarefeita, nem sempre inescapável, pessoal e intransferível. Poderia alguma pessoa carregar a paz? Era o que diziam dela.

Luci levava seu violão, sempre levava seu violão, e um punhado de composições. Compusera em seu quarto, na casa do primo, na fazenda. Eram sinceras, músicas sinceras, como sempre foi.

Desembarcou na primeira cidade. Recebida com abraços e beijos. Pessoas que admiravam sua música estavam abertas a recebê-la. Ficaria com elas, hospedada. Ia tocar em um bar local. Tudo arranjado. Conheceu a cidade. E mais que tudo: conheceu as pessoas. Outras culturas. Outras histórias. Mas ainda assim pessoas. Pessoas são pessoas, pensava, e ia entendendo algo muito especial. Parecia que estava descobrindo uma conexão com aqueles estranhos, que achava que não era possível. A música os aproximava, pareciam íntimos. Luci, artista em essência, deixava-se nua em suas canções. Transparecia seu carácter. E eles gostavam dela e de sua música. Existem coisas deveras humanas que unem as pessoas das partes mais remotas, com os mais diferentes estilos de vida. A música parecia também ser uma delas.

As viagens foram sucedendo. De cidade em cidade. E em cada lugar a mesma história. Era um tempo de alegria para Luci e para os outros também. Percebera a simplicidade e cumplicidade. O respeito e a amizade. Que coisa maluca! Tão longe! Tão rápido! Que aventura.

Quando se apresentava nos shows, mesmo muito simples, percebia que tocava sua audiência. Começara a perceber aquilo sobre a paz, que diziam sobre ela. A vida pode ainda ser muito difícil, ansiosa. A música sempre pode acertar e confortar. Trazer a paz. As melodias calmas e rítmicas, a voz suave e profunda: tudo acalmava, elevava.

Luci também embarcava naquela sensação durante os shows, que revelavam-se um transe coletivo, pareado entre o emissor e receptor. Era um ar reconfortante, uma atmosfera leve. Quase tinha cheiro aquela sensação que se espalhava. Que noite, diziam eles, a plateia. Não sabiam bem o que sentiram nas horas que passaram, mas o sentimento era bom.

Luci ficava emocional a cada despedida. Era tudo muito intenso e se sentia grata e sortuda por estar vivendo uma experiência como essa.

Mas era hora de voltar para casa. Também é sempre bom voltar. Inteira, nova. Diferente. Agora com um grande senso de propósito. Irá gravar o próximo álbum e se chamará “Alguma coisa está mudando”. Não sabe se nela ou ao redor. O fato é que algo está mudando.

O despertar da simplicidade para uma vida plena deixou marcas irreparáveis em Luci, que inspira todos os que estão ao alcance. Mudando.

*Conto inspirado na ida de Lucy Rose, artista Inglesa, para a América do Sul. Ela recentemente lançou o álbum "Something's changing".

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