Que calor!, dizia ela, entre os escombros do quarto e o café na cabeceira. Já era tempo sem organizar as coisas, que andam tão confusas e escorregadiças desde quando ainda tinham sido organizadas. Fez o passeio, leu os livros, trabalhou com os papéis. Aparentemente em ordem. O ar solitário já nem incomodava mais. Quando queria isso ou aquilo, só pedia. Ser bonita tem lá suas vantagens, pensava. Mas então recebeu o olhar amistoso, sem vitimização ou depravação inoportuna. Provavelmente um pouco demais. A mensagem com afeto. A resposta que não enviou. E foi assim que esqueceu de colocar de volta o primeiro livro na estante. Da terceira vez em que amarradamente evitou olhar, a xícara não voltou à cozinha. Algumas outras vezes sucederam e a irremediável incompostura ia desorganizando o quarto na mesma proporção que o resto. Por dentro, onde não aparecia na escada rolante ou no aguardo do ônibus que chegava sempre a mesma hora.
O tempo passou.
O afeto perdeu-se.
Não procurou. O quarto voltou a se arrumar, limpo e bem aventurado, apesar de que o primeiro livro nunca mais coube na estante.