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  • Foto do escritorAndersonn Prestes

O diário pré e durante a quarentena


Estou há muito tempo apenas em casa. Mais dias do que lembro contar, que até parecem mais do que se passou. Creio que desde aproximadamente 19 ou 20 de março não pus os pés para fora – a não ser para colocar o lixo na lixeira.

Entendo que sou um privilegiado, por poder ficar em casa, e, pelas circunstâncias que me permitem, devo ficar por uma questão cívica. O isolamento social é a medida mais efetiva para combater a disseminação do vírus, pelo menos até encontrarmos uma vacina. Faço por mim e pelos outros. Faço pelos que moram comigo e são grupo de risco. Faço pelo seu Moacir que vende ração para minha cachorrinha na agropecuária. Faço, também, pela Isabel, que nunca vi e nem sei onde mora.

Ficar em casa já não vinha sendo novidade para mim. Nesses tempos difíceis não estava trabalhando em nenhuma empresa tradicional de segunda a sexta com ponto marcado. Ainda que gostaria de um trabalho digno, compatível e que me gerasse uma receita justa. Mas a gente tenta dar no jeito, para pelo menos pagar a cervejinha e o acampamento no final do mês.

Mesmo que não ideal, alguma coisa me ajudava na questão financeira. Minha semana pré-quarentena seguia mais ou menos assim:

Uma vez por semana ia na coleção de insetos voltada a estudos de biodiversidade. Saía cedo, pegava o trem, e ficava cerca de 7 a 8 horas por lá no meio dos bichos trabalhando. Além disso, estava com 2 alunos particulares. Um de violão e uma de Inglês. As aulas eram aqui em casa, na tardinha, e ocupavam três dias. Ia na academia de três a quatro vezes na semana. E claro, trabalhava na minha música, compondo, praticando, gravando, gerenciando as redes sociais, criando peças gráficas, estabelecendo contatos, ficando no vácuo, avaliando as estatísticas, recebendo elogios, sendo desencorajado e tudo mais que um artista independente se propõe a fazer e receber.

Enfim, por mais que tivesse diversas atividades, ficar em casa grande parte da semana me causava um certo desconforto. Estou numa idade que deveria estar no ápice de produção, seja de realização quanto financeira (- em um ideal de uma sociedade equilibrada). Não que não estivesse produzindo, mas o sentimento não era tão claro.

Quando todos tiveram que ficar em casa e perceberam que não é algo tão fácil, especialmente aqueles desligados de sua rotina laboral, foi algo que estranhamente me causou certo conforto, em um primeiro momento. Senti um certo sentimento de empatia e compreensão. As pessoas sabem também o que é ficar grande parte do tempo em casa. Claro que agora era por uma questão muito mais radical – ou uma pandemia mundial, como queira chamar.

O tempo foi passando. Dias, semanas e já completamos meses. Estamos mesmo ficando mofados. Agradeço por morar numa casa, com pátio, arejada e bem iluminada. A semana, o dia, mudou para todos e tivemos que nos adaptar. Para me manter saudável tenho seguido uma rotina diária, meu “durante” a quarentena:

Acordo relativamente tarde, entre 10 e 11 da manhã. Tomo um cafezinho preto e como um pão torrado. Leio por aproximadamente uma hora. Adaptei-me ao Kindle, que antes não gostava tanto, e comecei a ler alguns clássicos disponíveis, entre outros livros que possuo a versão física: “Viagem ao centro da Terra”, “O mágico de Oz”, “Sapiens: uma breve história da humanidade”, “Arrume a sua cama”, e assim por diante. No momento estou lendo a biografia de Elza Soares. Uma história um tanto marcante e difícil, mesmo com todos os floreios para enaltecê-la. Uma mulher, negra, pobre e cantora nos anos 1950 tem muita história para contar. E deve contar.

Logo chega a hora do almoço, comida feita pela minha mãe (estamos morando eu, meu irmão e minha mãe). Eu lavo a louça, depois dou comida e troco a água da Rebeca (nossa cachorrinha). No início da tarde trabalho alguma coisa nas minhas redes como artista, uma peça gráfica, às vezes começo a esboçar um texto aqui para o blog e recentemente tenho feito algum curso online (terminei um sobre TI – tecnologia da informação - hoje). Também leio o grupo dos meus amigos no whatsapp e dou boas risadas.

Chegando no meio para o final da tarde faço exercícios. Tenho feito diariamente e acho que até emagreci, mas não tenho certeza. Caminho algumas voltas no pátio para aquecer. Depois levanto os galões de água para as costas, bíceps e ante-braço. Abdominal e apoio. Panturrilha e quadríceps. Os exercícios duram cerca de 1 hora. Faço porque fazem eu me sentir bem. É um momento bem particular, quase como uma meditação. Acho que quem faz exercícios regularmente entende o que quero dizer.

A tarde vai terminando. Vou na cozinha e como uma fruta, tomo bastante água. Sinto certa fome, até pelos exercícios. No quarto às vezes interajo um pouco com meus amigos, escuto música, e logo, cerca das 19h, vou jantar. Acabo jantando antes do restante da família porque eles sentem fome mais tarde. Na rotina deles, enquanto janto, eles assistem Netflix.

No dia chegando ao fim, toco violão, assisto alguma série e hoje estou escrevendo esse texto. A série que estou vendo no momento é “Anne with an E”. Estou quase acabando. Gosto bastante. Uma super produção muito detalhista. Eles tiveram o cuidado de esperar os atores crescerem “de verdade” para dar seguimento às temporadas.

Meu dia, então, termina na cama, a espera do comentado “novo normal”.

Aconselho a estabelecer uma rotina, tentar se manter um pouco produtivo e fazer coisas que te agradem. E aguardar o próximo desenrolar da crise do COVID-19.

No mais, se cuide. :-)

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