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  • Foto do escritorAndersonn Prestes

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Alguns mais próximos conhecem minha certa aversão à burocracia e todos os seus papéis e formulários.

Tenho a sorte de ter uma mãe absolutamente incrível, secretária, e que procura entender e ajudar o filho atrapalhado.

Enfim, em alguns momentos é bom quando somos surpreendidos com alguém ou alguma coisa que compartilha e argumenta sobre uma mesma opinião. Estou fazendo uma disciplina chamada ciência, cultura e ética. Na última aula trabalhamos um texto bonito do filósofo brasileiro João Morais. A discussão do texto gira em torno da ciência moderna e as perspectivas antropológicas de sua intenção e aplicação. Ele afirma que a ciência está sem consciência e poderia estar numa fase de procura e regresso a uma base de valores filosóficos. No interior disso, João defende que à medida em que nossa mentalidade foi modificando de acordo com os grandes momentos modernos (de Galileu, Newton a Einstein), paralelamente e consequentemente, houve uma automatização das atividades humanas. Primeiro com o boom da revolução industrial e depois com a cibernética. Tudo tenderia a uma burocratização com uma eficiência enorme e que de alguma forma “envolveria e limitaria toda a vida humana”. Ele escreve que nascemos em uma instituição, depois estudamos em uma outra, para trabalharmos em outra, e quando morremos, a funerária será nossa responsável. Tudo encaixotado, devidamente regulamentado e protocolado. Não há muito espaço e deve-se seguir a linha a risca; afinal, bem ou mal, você deve preencher algum dos campos. Seria um mundo mecanicista e melancolicamente analítico.

Alguém certamente pode contestar. Tudo bem. Concordo, precisamos organizar a sociedade. Ela poderá se diversificar e tenderá a se adequar às novas demandas (em um ritmo extraordinariamente mais lento do que poderia). Mas confesso, apesar de geralmente reflexivo, vou seguir ácido. Me dou o direito de ser um pouco mais exagerado. Não gosto de autoridade. Não me sinto à vontade com a mínima idéia de que devo estar em algum lugar porque simplesmente devo estar ou porque devo preencher. Nesse sentido poderia dizer que tenho uma visão quase anarquista. Se estiver aqui é porque realmente quero e sinto, e se o outro está lá, também. O livre-arbítrio. Quero e preciso de um argumento, uma explicação. O bom-senso e o diálogo poderiam ser muito melhor utilizados. As exceções muitas vezes são coisas inesperadas, criativas e impressionantes. Deveríamos dar tanto valor aquilo que verdadeiramente não temos lugar – e não há onde colocar. A graça está na diferença. A burocracia e os papéis deveriam ser tão somente uma mera e ínfima consequencia do planejamento em questão. Nunca uma prioridade. Há uma adequação inversa – nós entramos no formulário e não o formulário em nós. João Morais não aborda tanto esse tema em seu breve ensaio, focando-se mais numa espécie de atrofia tecnicista, em que a qualidade interior do homem não teria avançado junto com o espantoso desdobramento científico-tecnológico. Como se não estivéssemos maduros o suficiente para saber tanto. Mas termina otimista, citando Santo Agostinho: "ama e faze o que quiseres".


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