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Foto do escritorAndersonn Prestes

O paralelo entre a Amazon e Yuval Harari (autor de Sapiens)



Estou lendo dois livros. Um que conta a história da Amazon e seu fundador Jeff Bezos (A loja de tudo: Jeff Bezos e a era da Amazon) e foi considerado o livro do ano de negócios 2013. E Outro, best-seller, que relata a história da humanidade (Sapiens: uma breve história da humanidade).


Poderia fazer um paralelo talvez incomum entre um livro de negócios e um livro de história.

A trajetória de Bezos não me parece nada muito gloriosa, apesar do sucesso atual incontestável da empresa e todos os seus avanços tecnológicos. Sua ambição quase cega junto da tremenda competitividade assustam, mesmo que nem tanto surpreendam. É praticamente um sucesso a qualquer custo e humanamente desgastante – tanto para o próprio Bezos quanto para os envolvidos em qualquer esfera envolvida (tirando os clientes). Por várias vezes ao longo do livro o jornalista Brad Stone fala em uma luta “darwiniana” no mundo corporativo, em que Bezos tomava diversas atitudes para vencer os oponentes.

Chegando ao livro “Sapiens”, o autor Yuval Harari também fala em Darwin, obviamente, porque ele começa contando como evoluímos ao longo da história da vida. Ele apresenta uma visão bem tradicional da teoria da evolução, baseada em competição e a “luta pela sobrevivência”. Tal pensamento “darwinista” permeia uma base fundamental de muitos argumentos desenvolvidos no livro. E ao meu ver, o livro é todo enviesado a partir dessa ideia de evolução.

Como biólogo e tendo bastante leitura sobre evolução, vejo que caminhamos para uma teoria muito mais ampla e complexa, onde a competição é apenas mais um fator no meio natural, ou interação ecológica que poderá dar respostas evolutivas junto a diversas outras (e não se enganem, não estou defendendo nenhuma visão "romântica" a cerca da evolução).


Organismos sofrem pressões seletivas a respeito de diferentes fenótipos (suas características como tamanho, velocidade, camuflagem, etc) e modos de vida, podendo causar mudanças direcionais de traços ao longo das gerações. As populações mudam e estão em constante movimento em suas paisagens genéticas e fenotípicas. Eu nunca gostei da metáfora para descrever a natureza reduzida em uma "batalha para vencer” .


O organismo quer sobreviver. Eliminar ou "derrotar" alguém não é o seu objetivo, algo que implicaria no caso da busca por uma "vitória". No esporte, por exemplo, quando um time enfrenta o outro, o foco principal está no oponente, em derrotá-lo - é preciso ser melhor. Na história da vida, o foco está no próprio organismo (ou time), que poderá competir com outros, cooperar ou mesmo ter alguma relação completamente neutra. Todos querem chegar à próxima geração, explorando de melhor o que aquela paisagem fenotípica e genética oferecem, podendo inclusive incluir outros.


Essa simples mudança de interpretação tem um profundo resultado no entendimento da evolução. E o seu principal "produto" acaba sendo diversidade, não mais o "vencedor".

Explico isso por que penso que muito desse pensamento ambicioso de vitória e extrema competição desacoplado de moral, que frequentemente encontramos no mundo corporativo (e em diversos outros lugares), muitas vezes tenta se basear nas idéias do “darwinismo”. Como se fosse algo inevitável e “natural” agir assim, afinal as coisas funcionam desse jeito: são as “leis” naturais da vida.


Acredito que muitos poderiam ficar intrigados o quanto Darwin se preocupava com variação, que resulta em diversidade, e que é parte central do pensamento evolutivo. Diferentes características serão selecionadas a partir de suas usabilidades – uma espécie ancestral pode se ramificar em diferentes novas espécies que irão interagir de forma nova com o ambiente.

Tanto os diversos argumentos usados por Harari ao longo de seu ensaio sobre a humanidade, como a idéia de sucesso de Bezos parecem ter um mesmo alicerce em comum. Um pensamento que valida tais atitudes e traz um certo conforto para esse comportamento (o que me faz pensar que pode ser um dos motivos de os dois livros venderem tanto, mas isso já é pura especulação).

Uma luta desenfreada que não parece satisfazer nenhum humano, mesmo em seu estado mais natural.

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