Há algumas semanas penso em escrever sobre eles. Certamente não teria o devido direito em fazer, já que nunca li sobre a Zaratustra e os manuscritos do grego se perderam ao longo dos séculos. Às vezes, no entanto, não é preciso muito tempo ou experiência para perceber alguma coisa interessante.
ATO I
Friedrich Nietzsche foi um guerreiro. Em uma vida antiga poderia ter sido amigo de Leônidas ou, na mitologia nórdica, alguém próximo de Thor – hoje seria torcedor e conselheiro ilustre do imortal tricolor.
Uma pessoa que olhou a vida nos olhos e tentou chegar no íntimo da existência. Deixou escritos polêmicos, foi chamado de anticristo e mal-interpretado. Nasceu predestinado a ser pastor, mas, aluno brilhante na academia de letras, logo se inclinou aos estudos filosóficos. Jovem, já era importante professor universitário, até sua saúde tornar a voz quase inaudível. Passou a ser um errante a procura de inspiração e paz – “o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando”.
Teve problemas com mulheres, como todos nós. Alemão, elegante, cabelo penteado e bigode de invejar Chico Buarque ou Olívio Dutra, em seu último e mais intenso fracasso romântico, o ritmo das obras cresceu consideravelmente. Poucos anos depois teve um “ataque de loucura”, vivendo sob a tutela da mãe e irmã. Alguns dizem que por síflis outros por câncer. Morreu em agosto de 1900, com 56 anos.
Apesar da biografia melancólica não penso em alguém infeliz ou coitado. Vem-me a imagem de uma pessoa livre, que enfrentou os opostos e chegou a quase todos os limites. Não tinha medo nem vergonha de pensar. Sem desculpas à moralidade ou apegos teológicos e materiais. Honesto consigo mesmo e ético para com os outros.
Talvez a polêmica venha da sua objetividade. Textos curtos, diretos e passíveis de interpretação. Rei da ironia. Uma das poucas - creio eu - unanimidades foi sua paixão por música – “sem música, a vida seria um erro”.
ATO II
Epicuro. Viveu 71 anos, de 341 a.C.-270 a.C. A filosofia grega por si só já traz um sentimento nostálgico não vivido. Foi lá que tudo começou. A cultura da ciência, a tradição do por quê, os pensamentos concorrentes e a saudável disputa intelectual, o início da academia como conhecemos (não imagino a primeira, mas pelo menos aquela que sobreviveu em meio a gana maior do ter do que saber).
Mas quero falar sobre esse sujeito digno de reverência e seus amigos “filósofos do jardim”.
Em sua doutrina, a felicidade era prezada na sua plenitude, como um estado maior de espírito e paz interior – a quietude da alma.
Devemos ser felizes diziam eles, com a ausência de dor e a presença de prazer.
O jardim era o espaço para a tal da dialética e as intermináveis e agradáveis discussões. Pobre, rico, mulheres, brancos, todos eram convidados para o embevecido debate em uma Grécia carregada de preconceitos. O desejo era saciado, o prazer limitado pela consciência de estado.
Dizia que a pior dor é aquela oriunda da frustração e o mais perto da convicção seria a reação do corpo por completo – psicológica, física e da alma – àquilo que desejamos.
Acreditava piamente na amizade e na força das relações humanas. A simplicidade é uma das normas, aliado à prudência, gentileza e serenidade.
Alguns o criticam por não ser metódico ou muito científico em seus tratados, principalmente aqueles voltados às explicações do meio físico natural. Mas no meio psíquico, cujos métodos acabam provenientes da intuição, ao menos para mim, foi um grande mestre.
FINAL
Enfim, ainda espero que todos possamos encontrar a bravura de Fried e a paz de Epicuro.
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